Coleção Ella Fontanals-Cisneros(FIESP) - Construções Sensíveis(III)

Abstract

A dicotomia brasileira entre paulistas e cariocas, na defesa das opções do concretismo e neoconcretismo, levam a pesquisa visual ao diálogo entre o racionalismo puro e sua subversão, a partir da incorporação do sujeito na equação artística. O grupo Ruptura, criado em São Paulo, em 1952, junto com seu radical manifesto, concentra as aspirações do movimento concreto nas pesquisas geométricas, recusando qualquer espaço à expressão da subjetividade individual na obra. A incorporação do uso de materiais industriais coloca a obra em sintonia com a utopia industrial e desenvolvimentista que toma conta do contexto brasileiro.

O Manifesto Neoconcreto, em 1959, vem subverter o predomínio da pura visualidade da forma com a incorporação da subjetividade e da relação com a vida. A rigidez da obra, alinhada com o produto industrial, é contestada com a imprevisibilidade da interação da obra primeiramente com o artista e depois com o espectador, que completa seu sentido.

A tensão entre ambos grupos cria uma situação peculiar no Brasil, que leva ao limite as possibilidades da abstração. Por um lado, a ortodoxia geométrica atinge seu ponto de radicalização mais extremo com o concretismo. Por outro, os neoconcretos abrem caminhos inéditos para a criação de matriz abstrata com a introdução da variável do corpo e do ponto de vista do espectador na experiência da obra, o que levaria a exploração da sensorialidade – para além do visual – como mais uma via de apreender a arte.