Mosteiro Santa Clara. Quito. Equador. Séc. XVII

Abstract

A atual igreja do mosteiro das clarissas deve aos empenhos da abadessa Soror Jorónima de San Agustín, filha nobre quitenha e do presidente da Audiência, Dom Pedro Vásquez de Velasco que obteve a permissão junto ao bispo Peña y Montenegro em 1650. O arquiteto responsável foi frei Antonio Rodríguez que é também responsável pela construção do claustro principal de Santo Domingos, do segundo claustro de São Francisco e outros conventos quitenhos. A igreja foi reparada ainda em 1873. A igreja disposta junto ao alinhamento da rua Cuenca e tem as portas gêmeas continuando o arruamento dos franciscanos. Os portais em cantaria ostentam arcos de volta inteira, duas semicolunas estriadas clássicas com capitéis corintos que sustentam os entalhamentos duplos sobre os quais as molduras curvilíneas trilobares apresentam baixos relevos, um com a Coroação da Virgem e outro com Santa Clara. Há ainda dois nichos para os santos franciscanos. A igreja tem três naves abobadadas separadas por grandes pilastras. As abóbadas são octogonal, elíptica e uma sobre base quadrada, todos com abertura para iluminação. No parte posterior há os coros baixo e superior com rica cruzaria nos arcos que o sustentam. A iluminação proveniente das janelas laterais da nave esquerda auxilia a claridade desta igreja conventual que difere das outras pelas suas três naves. Igreja é rica na ornamentação de seus retábulos distintos um do outro o que a torna atrativa pois sendo ampla e de três naves cada altar se mostra como peça única, adaptados aos espaços. Ao entrar pelo fundo logo se vê um retábulo com rica pintura da Virgem e portinholas que se movimentam sobre as pinturas do retábulo de tal forma que como antigos trípticos se abrem com novas cenas. Acima está o coro alto e ao lado o coro baixo com grades trabalhadas em madeira. O retábulo mor de dois corpos tem amplo sacrário no tramo central e o nicho superior acompanha sua forma curva. Dois nichos inferiores acolhem as esculturas e os superiores pinturas. As colunas que delimitam os espaços são lisas com filetes de ramos de flores (Navarro, 2006, p. 173). O retábulo de São Roque é dos mais interessantes da cidade de Quito. Adaptado para aquele espaço recebe luz por uma abertura no coroamento onde deveria ter uma pintura. A predela tem duas cenas em baixo relevo com duas figuras uma do Antigo e outra do Novo Testamento – um rei e um apóstolo (Davi e Paulo?) - ambos deitados, porém de olhos abertos, ladeando um sacrário curvilíneo com cenas das cruzes no Calvário, a Virgem, João e a cidade de Jerusalém. As colunas que dividem os três tramos têm sobrecargas tanto escultórica e iconográfica: no terço inferior há os símbolos dos evangelistas, acima cabeças de querubins e abaixo do capitel compósito, um rebuscado relevo de escamados e florais. O mais surpreendente são as molduras vazadas das laterais tendo na parte inferior uma ave do paraíso a julgar pela imensas caudas que se transformam em volutas seguidas por mascarões com bigodes em perfil e no arremate quimeras de dragões com cachos de uvas na boca. Uma união surpreendente de figuras e cenas bíblicas com animais míticos orientais, um perfil europeu e a uva símbolo de Cristo na boca de um dragão.