Conjunto Santa Catalina, Arequipa. Peru. Sécs. XVI/XVII e XVIII

Abstract

O monastério das irmãs dominicanas de Arequipa é sem dúvida obra sui generis nas Américas. Seus dantescos muros bloqueiam o urbanismo a formar uma cidade espiritual dentro das ruelas das reclusas. Esta cidadela dentro de outra conta com uma robusta igreja que faz contato com o mundo por meio de duas portas. Ao adentrar pela portaria, um labirinto de vielas com denominações de cidades espanholas – Sevilha, Burgos, Toledo, Córdoba e Granada – levam para as celas das religiosas. Esta prática de retirar-se do mundo vem dos primórdios do cristianismo e na Idade Média ganha regras. Junto aos claustros, à esquerda, com arcadas abobadadas, paredes coloridas e tímpanos afrescados, com cenas da vida da Virgem ou bíblicas, ficam as clausuras e o noviciado. Passando o novo monastério, à direita, estão as ruelas com celas para a prática solitária da religião. A cela feita em pedra, em geral com arcos sustentando pequenas cúpulas, abrigava todos os cômodos em um só ambiente do local para se dormir, orar, cozinhar e realizar afazeres das serviçais. A dureza arquitetônica se por vezes colaborava com o austero modo de vida religiosa, outras contrastava com o luxo das reclusas que sem pudores se entregavam ao luxo, banquetes e vaidades inerentes do ser feminino. Este ermitério urbano, que entrou em conflito com as normas da Contra Reforma devido a prática solitária do ideal religioso ainda com práticas medievais, criou um oásis em Arequipa, singular e único nas Américas. Primeiro por criar o que se designa cidades com longos muros por vezes interrompendo o urbanismo proposto e neste caso com a aquisição e ampliação de duas ruas. Segundo pela clausura ao ar livre, uma cidadela amuralhada, quase autossuficiente nos sentidos de sobrevivências materiais, culturais e sociais. Lá as donzelas estavam livres dos caça dotes casamenteiros, os nobres asseguravam suas linhagens e a educação religiosa e as mulheres e viúvas fiavam distantes dos assédios dos homens.