Entre apropriação e recusa: os significados da experiência escolar para os jovens da periferia urbana de São Bernardo do Campo (SP)

Abstract

O objeto desta tese é a presença da escola na constituição das identidades juvenis. Investiga-se os sentidos e significados que jovens urbanos e pobres atribuem à experiência escolar. A pesquisa, de abordagem qualitativa, é realizada com um grupo de jovens estudantes do ensino fundamental e médio, com idade variável entre 17 e 26 anos, oriundos da periferia urbana de São Bernardo do Campo. A coleta de dados efetivou-se em duas etapas, no período 2005- 2007, com base em entrevistas intensivas individuais, entrevistas em grupo e observação. O diálogo do objeto com a teoria constrói-se no aprofundamento da noção de juventude e na análise sociohistórica da escola. Conclui-se que há uma presença efetiva da escola na constituição das identidades juvenis. Os jovens fazem-se atores em relação com a escola, mesmo quando estão fora dela. É por intermédio da experiência escolar que constroem os sentidos para suas ações, afirmam suas individualidades e se relacionam com o mundo. A escolarização aparece como horizonte, meta, necessidade ou como desejo a ser realizado. A presença juvenil na escola é pautada por estratégias de apropriação dos produtos escolares, de integração no tempo-espaço e de resistência aos mecanismos de aculturação dispersos em seu cotidiano. Contudo, há uma conjugação de mecanismos e práticas escolares que inclui os jovens pobres de forma degradada no sistema de ensino, ao mesmo tempo em que os excluem-integrando à dinâmica social. Há uma silenciosa produção do fracasso escolar no interior do sistema de ensino frente à ruidosa entrada dos jovens nas salas de aula.

The object of this thesis is the presence of school in the constitution of young people’s identities. Meanings and feelings given by urban, poor, young people to the school experience are investigated. The research, based on a qualitative approach, is performed with a group of young students (with age between 17 e 26 years old) attending primary or secondary school and coming from the urban periphery of São Bernardo do Campo (in the region of S. Paulo city). Data were collected in two different phases, between 2005 and 2007, by means of openended, in depth, individual interviews, group interviews, and observation. A dialogue between the object and the theory is built upon the discussion of the notion of youth and a sociohistorical analysis of school. One of our findings is that school represents an effective presence in the constitution of juvenile identities. Young people behave as actors in their relation with school, even when they are outside the school. By means of the mediation with the school experience, they construct meanings for their actions, affirm their individualities, and enter into relationship with the world. Schooling represents to them as an horizon, a goal, a necessity or a desire. Young people’s presence in school is characterized by strategies of appropriation of what school produces, strategies of integration in the space-time of school, and strategies of resistance to the mechanisms of acculturation diffused in their daily life. However, there is, in the school, a conjugation of mechanisms and practices that includes poor young people in a degraded way in the teaching system and that, at the same time, excludes them, and integrate them in the larger social dynamics. A silent production of failure is at work in the interior of the school system, together with the noisy entrance of this young boys and girls in the classrooms.