Regeneração natural sob talhões puros de espécies nativas com diferentes atributos funcionais

Abstract

A facilitação e a inibição da regeneração natural por plantações florestais já foram demonstradas em regiões tropicais. Os mecanismos de facilitação e a influência das espécies plantadas na trajetória do sistema em regeneração, no entanto, ainda não estão completamente elucidados. Objetivou-se neste estudo investigar se, a partir das características funcionais das espécies do dossel, há diferenças nos processos de colonização do sub-bosque. O estudo foi realizado na região central do Estado de São Paulo, no município de Botucatu. Foram comparadas quatro espécies arbóreas plantadas há cerca de 80 anos como sombreadoras de cafezais: Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan var. cebil (Griseb.) Altschul (fixadora de nitrogênio); Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze. (não fixadora); Piptadenia gonoacantha (Mart.) J.F. Macbr. (fixadora); Hymenaea courbaril L. (não fixadora). Todos os indivíduos arbustivo-arbóreos maiores que 0,5 m de altura foram medidos e identificados, em 25 parcelas de 10 x 10 m em cada talhão. O Índice de Área Foliar (IAF) de cada parcela foi determinado ao final da estação chuvosa (março) e ao final da estação seca (Setembro), de modo a detectar diferenças no padrão de sombreamento das áreas. No início da estação seca, foi coletada a serapilheira depositada no piso florestal com auxílio de um gabarito, de modo a verificar sua massa seca e sua influência na densidade e riqueza da regeneração natural. Levantamentos microclimáticos foram feitos durante um semestre, de modo a verificar eventuais diferenças entre os talhões. Os resultados mostraram altas taxas de auto recrutamento nos talhões de A. colubrina var. cebil e P. gonoacantha, o que pode ter inibido, em parte, a colonização no sub-bosque por outras espécies, especialmente na primeira área. A síndrome de dispersão das espécies plantadas pode ter afetado a proporção de indivíduos regenerantes de dispersão zoocórica, mas não a proporção de espécies. O Índice de Área Foliar não se mostrou um bom indicador da capacidade de colonização das áreas por espécies alóctones. A densidade de indivíduos autóctones e massa seca de serapilheira no solo afetaram negativamente a densidade e a riqueza da regeneração natural, quando consideradas as quatro áreas; enquanto que a área basal mostrou efeitos positivos nestas variáveis. Variáveis abióticas também podem ter exercido efeito no processo de colonização do sub-bosque, considerando que existem diferenças em características microclimáticas e edáficas entre os talhões. Foi constatado que as quatro áreas seguiram trajetórias sucessionais distintas e que as espécies plantadas constituem filtro seletivo para a colonização do sub-bosque por espécies alóctones.

Facilitation and inhibition of natural regeneration through forest plantations have been demonstrated in tropical regions. However, the facilitation mechanisms and its influence on succession trajectory are no so clear. We aimed at investigating whether there were differences amongst colonization processes of the understory, based on functional characteristics of the canopy species. The study site was located in central São Paulo State, Southeastern Brazil. We compared four abandoned forest stands that were used as shaded coffee plantations around 80 years ago: 1) Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan var. cebil (Griseb.) Altschul (nitrogen-fixing); 2) Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze. (non-fixing); 3) Piptadenia gonoacantha (Mart.) Macbr. (nitrogen-fixing); and 4) Hymenaea courbaril L. (non-fixing). All understory individuals above 0.5 m tall were measured and identified at the species level, in 25 plots of 10 x 10 m in each stand. Leaf Area Index (LAI) was determined inside each plot at the end of the rainy season (March) and at the end of the dry season (September), in order to detect differences in shading pattern among the areas. Ground litterfall was collected in each plot using a 0.25 m² template, in order to assess the dry weight and its influence on natural regeneration. Microclimate data were also collected during six months, to check for differences among stands. The results show high rates of self-recruiting on A. colubrina var. cebil and P. gonoacantha stands, which may have partially inhibited understory colonization, especially in the first area. Dispersal syndrome of planted species affected the proportion of zoochoric dispersion regenerating individuals, but not the proportion of species. Leaf area index was not a good indicator for colonization capacity of areas by other species. Planted individuals density and its descendants and litterfall negatively affected natural regeneration density and richness, when analysed all four areas. Basal area, however, showed positive effects on these variables. Abiotic variables may have had some effect upon understory colonization process, since we found differences in microclimate and soil characteristics among plots. It is clear that the four areas have taken different successional trajectories and that planted species work as selective filters for understory colonization by other species.