Assombros e escombros da modernidade no teatro de Hilda Hilst

Abstract

Este trabalho apresenta uma leitura interpretativa de parte do teatro de Hilda Hilst, escrito no final da década de 1960. Encontram-se, no primeiro capítulo, comentários acerca da fortuna crítica já existente sobre os textos dramáticos da autora paulista, aproximando perspectivas e pareceres semelhantes a fim de estabelecer possíveis linhagens críticas. Já na segunda parte analisa-se a peça O novo sistema, buscando compreender como nela se representa o processo de instauração de um Estado de exceção e se problematiza a dialética entre barbárie e esclarecimento, sobretudo a partir dos paradigmas modernos da evolução científica e da razão instrumental. O trabalho segue com uma leitura interpretativa de As aves da noite, procurando captar sua atmosfera infernal, em diálogo intertextual com Dante Alighieri, para então aproximá-la de certas faces da modernidade, encontradas em estruturas sociais e administrativas pautadas no cerceamento da evolução espiritual. A última reflexão é sobre a peça A morte do patriarca, em que se busca indicar, sobretudo, a figuração do fim das utopias e a proposição de novas formas de narrar e de construir o discurso histórico. Ao longo da dissertação, persegue-se o constante diálogo de Hilda Hilst com um vasto arcabouço de discursos, autores e textos de vários gêneros e áreas do saber -, como literatura, ciência, pedagogia, filosofia e teatro -, configurando uma estrutura em mosaico, resultante do processo de bricolagem com o qual a escritora compõe as três peças aqui estudadas

This dissertation presents an interpretive reading of part of Hilda Hilst’s theater, written at the end of the 1960s. At its very first chapter one comes across with comments on the critical fortunes already found in her dramatic writings, comparing similar perspectives and concepts in order to establish possible critical affiliations. In its second part one analyzes the play O novo sistema, trying to understand in it how the process of instauration of a State is represented and how the dialectics between barbarism and enlightenment is questioned, mainly based on the modern paradigms of scientific evolution and instrumental reason. The dissertation continues with an interpretive reading of As aves da noite, trying to capture its infernal atmosphere, in an intertextual dialog with Dante Alighieri, comparing it to certain aspects of modernity, found in social and administrative structures organized into the restriction imposed on spiritual evolution. The last pondering is on the play A morte do patriarca, in which one tries mainly to point out the figuration of the end of utopias and the proposition of new ways of narrating and creating the historical discourse. Along the dissertation, one pursues the constant dialog held by Hilda Hilst with a wide framework of discourses, authors, and texts of various genres and fields of knowledge - such as literature, science, pedagogy, philosophy, and theater -, configuring a structure in mosaic, resulting from a bricolage process with which the playwright from São Paulo Satate writes the three plays focused here