A saúde na roça: estudo hermenêutico de um serviço da saúde da família

Abstract

Este trabalho pretende apresentar um estudo de caso de uma unidade de saúde da família localizada na zona rural de um município do interior do estado de São Paulo com população abaixo de cinco mil habitantes e com baixo índice de riqueza. Busca-se investigar não só como as práticas de cuidado desse serviço de saúde se caracterizam e são organizadas, como também analisar as aproximações com os conceitos de universalidade, integralidade e equidade, tomados como indicadores de qualidade. O suporte teórico empregado na pesquisa foi a hermenêutica; a descrição etnográfica do cotidiano desse serviço foi a estratégia empregada para a coleta de dados. A ética, a estética e a política foram os parâmetros de análise dos dispositivos invisíveis de poder que operam nas práticas desenvolvidas pelos profissionais de saúde e permitiram a discussão dos resultados. Verificaram-se, entre a população atendida, a universalização do cuidado de si, traduzida na prática da utilização do serviço de saúde, e a observação das orientações médicas, mesmo que de maneira pessoal. Quanto à aplicação da integralidade nas ações, notou-se que as redes de poder nas quais os atores sociais estão implicados reescrevem o ideal proposto e produzem uma conduta ética marcada por lugares viciados histórica e socialmente. Finalmente, verificou-se que os fóruns de discussão de gestores não se constituem espaços de emancipação de forças políticas dos interesses de pequenos municípios, ameaçando o princípio da igualdade na gestão do sistema de saúde. Diante disso, apesar de existir um modelo ideal de qualidade proposto por meio da estratégia de saúde da família, constatamos processos ativos e dinâmicos não capturáveis e impossíveis de se controlar. Por outro lado, verificamos uma reinvenção criativa de práticas de saúde que chegam a famílias moradoras de...

This work intends to present a study of the case of a family health unit placed in the rural area of a town in the countryside of the state of São Paulo with a population of less than five thousand inhabitants and with a low index of wealth. We aim to investigate not only how the practices of this health service are organized, but also to analyze the approaches to the concepts of universality, integrality and equity, taken as indicators of quality. The theoretical basis employed in the research was the hermeneutics; the ethnographic description of this service’s daily routine was the strategy employed for the data collection. Ethics, aesthetics and politics were the parameters for the analysis of the invisible power relations that operate in the practices developed by the health professionals and allowed the discussion of the results. We verified, among the population assisted, the universality of the self-care, manifested in the utilization of the health service, as well as the acceptance of the medical advice, even if it is in a personal way. On what concerns the employment of integrality in the actions, we observed that the power nets in which the social actors are involved rewrite the ideal proposed and produce an ethic conduct marked by places that are addicted historical and socially. Finally, we verified that the discussion forums of managers do not constitute spaces for the emancipation of the political forces of the small towns’ interests, which threatens the principle of equality in the management of the health system. Considering this, although an ideal model of equality proposed through the family health strategy does exist, we found out active and dynamic processes which can not be caught and are impossible to control. On the other hand, we verified a creative reinvention of health practices that get to the families that live in distant and uninhabited places. In this ... (Complete abstract click electronic access below)